Sob o Luar.
Faziam cinco dias que ele tinha sido expulso do bando, cinco dias vagando pela floresta sozinho, por mais que ele entendesse a necessidade de seguir em frente ele não conseguiu, o vínculo com a alcateia era forte de mais e ele os seguido durante as primeiras noites, mas naquela noite ele tinha perdido o rastro, estava de fato sozinho, não sabia em qual direção a sua família estava.
Ele tentou seguir o seu instinto, e rumou para o sul, a lua estava cheia e reinava absoluta no céu estrelado, ele estava no limite da floresta e uma imensa planície se estendia na sua frente, a vegetação era alta, apresentando um pequeno brilho prateado refletido da luz do luar, movimentando se suavemente devido a brisa noturno.
O silêncio era intenso, como se não houvesse nenhum ser vivo em quilômetros, ele olhou com desconfiança para a planície, não havia nenhum sinal de perigo, mas mesmo assim ele sentia uma presença poderosa o observando, mas tinha chegado a hora, ele tinha perdido o rastro do seu bando e mesmo que o reencontrasse não podia retornar, afinal ele alcançou o seu terceiro inverno de vida e estava na hora de formar a própria alcateia, ou enfrentar o atual líder, algo que ele sabia não ser capaz de fazer.
A floresta já não era mais seu lugar e ele tinha que conquistar o próprio território, com cautela avançou, com a cabeça na altura dos ombros, atento, quase que totalmente ocultado pela vegetação alta, mas após alguns metros ele parou, levantando a cabeça e olhando fixamente para algo em sua frente, dois imensos olhos amarelos, próximos ao solo, imóveis, mas o olhando com uma intensidade amedrontadora.
O jovem lobo manteve a sua posição e rosnou ferozmente, ele era um dos senhores da floresta, um lobo cinzento, que não recuava perante a qualquer perigo, porém ele não estava com a sua alcateia, era um senhor sem território, sem irmãos de batalhar, sozinho suas chances eram pequenas. Pensou em recuar, mas antes mesmo de dar um único passo a grande fera negra avançou, realizando um salto magnífico em sua direção revelando as suas terríveis garras que refletem por um segundo a luz do luar.
Ele conseguiu desviar, atirando se para a esquerda, mas a pantera era ágil e saltou novamente quase que no mesmo momento que atingirá o solo, ele desviou novamente, porém não tentou se afastar atacando e cravando suas presas fundo em uma das patas do felino, houve um rugido de dor e com a pata livre um poderoso golpe foi desferido, atingindo o dorso do jovem lobo e o atirando no chão com tanta força que ele se obrigou a soltar o seu oponente.
A pantera hesitou por um segundo, mas investiu novamente, porém de maneira tão rápida e precisa que o jovem lobo não conseguiu desviar e a sua jugular fora atingida de forma feroz, ele sentiu as presas poderosas do inimigo perfurarem o seu pescoço e o cheiro do próprio sangue se espalhou pela planície. Ele se debateu, tentando desesperadamente morder o seu algoz, mas suas presas não alcançaram o adversário e as garras de suas patas eram quase que inúteis. O felino prendera suas garras e presas de tal forma que o jovem lobo estava imobilizado.
Suas forças estavam se esvaindo, mas em um último ato de desespero ele tentou uivar, mesmo com a garganta presa e imobilizado ele emitiu um uivo quase que inaudível e depois um mais forte e por fim um uivo intenso, mas não houve resposta e a noite se manteve silenciosa.
Era o fim, ele morreria sozinho, vítima de um predador maior e mais poderoso, ele estava pronto iria desistir e se entregar ao fatídico destino, quando um grande vulto pulou ferozmente sobre a pantera, fazendo-a largar a sua jugular, um segundo vulto ainda maior apareceu latindo de forma aterradora fazendo o felino se encolher na defensiva, mais três lobos cinzentos surgiram, cercando completamente a pantera que desferiu golpes em todas as direções tentando manter a alcateia afastada.
A pantera se encontrava em desvantagem, sem dúvida ela conseguiria enfrentar dois ou até mesmo três lobos cinzentos sozinha, mas cinco era a certeza de morte o que a fez tentar desesperadamente furar o bloqueio do grupo para fugir, obtendo sucesso após realizar um imenso salto sobre o menor dos lobos, disparando velozmente pela planície, sendo perseguida por um tempo por dois dos lobos.
O jovem lobo se manteve deitado no chão, ele não tinha forças para se levantar, sangrando mortalmente, um dos lobos menores lambeu carinhosamente a ferida em seu pescoço. Apesar de imovel ele ainda estava consciente e olhava atentamente para a sua primeira e única família, o maior dos lobos, seu irmão mais velho, nitidamente o líder o olhava de forma intensa, seu olhar era severo e transmitia uma certa decepção, mas havia também uma imensa tristeza, ele sabia o que aquilo significava, não havia mais nada a ser feito, apenas esperar o trágico fim, com isso ele relaxou e deu seu último suspiro.
Novamente o silêncio imperou na noite, um por um breve momento a suave brisa cessou, a lua brilhou e a alcateia uivou, uivou intensamente para que toda a floresta soubesse que um dos seus senhores tinha perecido.
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