Inegavelmente Dark Souls mudou a indústria, despertando o desejo quase que incontrolável nos estúdios, sejam pequenos ou não, em ter um "Souls Like" para chamar de seu, com isso inúmeros títulos surgiram, buscando emular as principais características dos jogos da Fromsoftware, alguns se destacaram outros nem tanto, mas poucos conseguiram a alcunha de sucessores do subgênero e se Dark Souls é o pai do "estilo souls", Mortal Shell sem dúvida é seu filho legítimo, que mesmo ainda não atingindo a sua total maturidade já deixa o seu velho pai orgulhoso. Desenvolvido pelo estúdio Cold Symmetry e publicado pela Playstack, o game foi lançado originalmente em agosto de 2020 para PC, PS4 e XOne, ganhando uma nova versão em agosto de 2021 para PS5 e Xbox Series.
É difícil não comparar Mortal Shell com Dark Souls, sendo esse sua principal inspiração e o primeiro game do estúdio Cold Symmetry, assim como o aclamado game da Fromsoftware, apresenta uma estética sombria, uma narrativa enigmática e logicamente um gameplay desafiador, que consegue equilibrar de forma bastante consistente a frustração com o sentimento de vitória, algo fundamental em todo bom Souls Like. Na trama somos apresentados a uma criatura humanoide, frágil e pálida, que vaga em uma ambiente etéreo e que após enfrentar um fantasmagórico guerreiro é inexplicavelmente engolida por um peixe gigante, despertando assim em um pântano desolado e encontrando já nos primeiros minutos a primeira "Shell", uma carcaça de um antigo guerreiro que pode ser possuída, dando-lhe assim acesso a suas antigas habilidades, algo fundamental uma vez que a "Pobre Criança" é extremamente frágil sem a proteção de uma carcaça. A narrativa é enigmática e fragmentada, e mesmo realizando todos os diálogos e lendo todos os textos encontrados em itens e gravuras a história não será facilmente interpretada, mesmo pelos jogadores mais atentos. Qual a origem do protagonista? Quem são os Referenciados? Qual o objetivo da Irmã Genessa? Por que o Pai das Trevas está acorrentado? O Inascido seria um humano que sucumbiu à corrupção ou algo mais? Esses são apenas alguns dos questionamentos que o game deixa em aberto na sua curta, mas satisfatória jornada.
Apesar da narrativa confusa e enigmática, o mundo de Mortal Shell consegue ser atrativo o suficiente para manter o jogador interessado, mesmo sem saber ao certo o seu real objetivo. Com um visual deslumbrante a ambientação do jogo surpreende por ser ao mesmo tempo familiar e relativamente novo, enquanto a floresta de Fallgrim nos permite explorar de forma livre, surpreendendo com os seus inúmeros caminhos que se interligam de forma extremamente orgânica, remetendo o level design de Dark Souls, os cenários adjacentes adicionam o ar de novidade necessário ao serem explorados, surpreendendo novamente o jogador com excelentes ambientações que marcam pela sua ótima direção artística, Nártex Eterno é o melhor exemplo dessa criatividade visual, apresentando um ambiente sombrio, etéreo e belo.
Apesar da câmera não ajudar em certos momentos, principalmente quando se fixa a mira nos oponentes, o combate se demonstra bem competente, com os inimigos tendo uma variedade de ataques que tornam os confrontos desafiadores, obrigando o jogador a memorizar os seus padrões de movimento. Cada arma encontrada apresenta um conjunto de movimentos específicos, a Espada Sagrada por exemplo é rápida, mas causa dano moderado, enquanto a Lâmina do Mártir é lenta devido ao seu peso, porém causando um estrago proporcional ao seu tamanho imponente. No total são apenas quatro armas que são facilmente encontradas no início de cada mapa, além de uma arma especial que simula uma espécie de bazuca que dispara grandes flechas, mas apesar do arsenal limitado o combate consegue oferecer de forma satisfatória uma boa variedade no gameplay, pois cada arma tem seu próprio padrão de movimento, assim como ataques especiais únicos, que são desbloqueados ao se encontrar itens específicos no cenário, além de permitir melhorias que aumentam a sua efetividade.
Vale ressaltar a importância de duas mecânicas de combate que são fundamentais para se avançar no game, primeiro temos a habilidade de solidificar, onde o protagonista literalmente se solidifica, repelindo assim qualquer ataque dos inimigos, o interessante aqui é que tal habilidade pode ser utilizada em qualquer momento, qualquer momento mesmo, durante um ataque, uma esquiva e até mesmo durante um salto paralisando o personagem ar, permitindo assim estratégias que unem defesa e ataque de forma bastante fluida. A segunda mecânica é o movimento de repelir, ou o "parry" para os veteranos de Souls Like, que como o próprio nome deixa claro permite repelir ataques dos oponentes abrindo uma pequena brecha para realização de um poderoso contra-ataque que reduz a vida do inimigo significativamente, facilitando os confrontos com oponentes mais fortes. Dominando uma dessas duas mecânicas o jogador conseguirá superar tranquilamente a maioria dos desafios do jogo.
O sistema de progressão de Mortal Shell se diferencia por focar inteiramente nas Carcaças, não há os tradicionais níveis ou árvore de habilidade, porém cada uma das quatro carcaças contém características e efeitos únicos que são desbloqueadas ao se utilizar Tar (as souls do game) e Vislumbres, ambos sendo obtidos ao se derrotar inimigos. Dessa forma cada carcaça apresenta uma jogabilidade distinta que se assemelham às tradicionais classes de jogos de ação. A carcaça de Tiel por exemplo é extremamente rápida e ágil, com alta quantidade de determinação, porém com pouca quantidade de vida, já a carcaça de Eredrim é resistente, porém com pouca determinação, já as carcaças de Harros e Solomon são mais equilibradas. Combinando as características das carcaças com as quatro armas o jogador terá acesso a uma boa variedade na jogabilidade, utilizando a combinação que se adeque melhor ao seu estilo de jogo.
O game apresenta uma experiência bem contida e relativamente curta, podendo ser finalizado em pouco mais de treze horas, são basicamente quatro mapas, uma boa variedade de inimigos e apenas seis batalhas contra chefes, isso se considerarmos os confrontos com os subchefes, mas apesar disso o game se demonstra bastante consistente na sua proposta com uma gameplay fluida e ambientação convidativa que incentiva uma segunda jogada no já tradicional New Game Plus, mesmo a segunda jornada sendo essencialmente a mesma, ainda assim ela se demonstrará satisfatória, apesar da batalha final ser um pouco decepcionante devido a sua dificuldade artificial que alonga o confronto desnecessariamente.
Após um ano do seu lançamento oficial, Mortal Shell recebeu a sua primeira DLC, intitulada The Virtuous Cycle, que adiciona uma nova Carcaça e uma nova arma que pode ser usada como uma katana ou machado, mas a principal novidade é a adição de um novo modo de jogo, que flerta com características do roguelike permitindo ao jogador explorar o game de forma aleatória, essencialmente é o mesmo game, porém o novo modo muda os encontros com os inimigos e adiciona uma quantidade considerável de efeitos adicionais que devem ser desbloqueados ao se explorar os cenários, algo bastante surpreendente pois adiciona mais uma camada ao jogo aumentando significativamente o seu tempo de gameplay.
Mortal Shell é um ótimo Souls Like, com um visual estonteante, uma originalidade surpreendente e um combate prazeroso, que não apela para a dificuldade exagerada. Mesmo sendo uma experiência relativamente curta o game consegue ser recompensador, apesar da sua narrativa excessivamente enigmática e mesmo seus pequenos problemas não ofuscam a experiência como um todo. Sem dúvida foi um ótimo primeiro passo para o estúdio Cold Symmetry e um potencial primeiro capítulo para uma nova franquia Souls Like. Sem dúvida Mortal Shell deixaria qualquer pai orgulhoso.
- Nota geral: 08.
- Tempo dedicado ao game: 58 horas.
- Conquistas desbloqueadas: 26 de 37.
- Dificuldade: Moderado.
- Fica a dica: Sempre faça combos de ataque, mas não seja ganancioso, pois no menor erro a morte é garantida.
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- Imagens durante a jogatina: Clique aqui.
- Vale o preço? Sim vale! Ainda mais com desconto.
- Modo de jogo: Solo.
- Idioma: Menus e legendas em português do Brasil.
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